Galho

Distante de tudo, tudo mesmo, estava o galho. Ofegante, o jovem milagre mal podia se conter. Foi tiro e queda. A bala percorreu alguns quilômetros desde a longínqua terra dos malfeitores até o terreno baldio. Boa pistola. Precisão e persistência unidas em prol do envio do graveto ao limbo. Minutos antes, embebido em seivas bruta e elaborada, nosso herói desafiava o destino. Estava, porém, preso ao solo, aglomerado de minerais capaz de perpetuar qualquer vegetal em um lugar específico. A paralisia, inimiga mortal do desvio, encarregou-se de garantir a mera observação da chegada lenta e gradual do projétil. Já no Éden, livre para permanecer na mesma insossa vida de outrora, a inerte haste exibe um sorriso amarelo, marcado pelo menosprezo aos que menosprezam a importância da unidade para o todo.

Floresta

De tão grande que era, a floresta vivia às moscas. Coitadas. Fugiam de leões, garças, coelhos e tudo quanto é tipo de animal silvestre. Só relaxariam se estivessem em grupos de dois ou mais. Isto porque, nessa realidade, saberiam o que fazer. O ponto é que a referida espécie é incapaz de conviver pacificamente. Diferentes uns dos outros e inconseqüentes, os bichinhos armam arapucas e até conchavos para delatar os colegas. Uma das armadilhas pegou Roberto, mosca macho que estuprava e matava. Quem teve a brilhante idéia foi Marina. Astuta, cavou um buraco, deitou-se nua e esperou. No momento certo, voou. Mais irracional do que a média, Roberto bateu com a cabeça, desmaiou e caiu de costas. A pressa, para os que correm, é natural, assim como a aversão ao diálogo é para os voadores. Pouco acionadas, as cordas vocais dos insetos se atrofiavam, o que dificultava ainda mais a evolução da classe em caráter social. Até hoje não se conhece o potencial cognitivo alcançado pelos animaizinhos carentes.