Banco

Andou na rua e entrou no metrô. Pra abrir a janela e ser agraciado pela combinação de vento com visual, saiu pra ir de ônibus. Tinha, no ponto, tempo e tranquilidade. Ar fresco. Achou melhor que atravessar o buraco. Podia olhar pro céu, pros prédios ou pra massas de água. Focou no ambiente interno. Altura do banco da frente. Dominado pelo que, no momento, ocupava o cérebro, ignorou árvores e pássaros. Desprezou fisionomias. Preferiu pensar e viveu as consequências. Pra conceber, perdeu a paisagem.

Princesa

Ganhava quem escrevesse mais rápido. Fernanda disparou. Defendeu, sem pensar, a chacina de animais domésticos e agressões verbais contra seres inanimados. Contou a história da princesa imaginária. Disse que acumulava roupas e colhia algodão. Pra não ser eliminada, tinha que fazer sentido. Poucos minutos. Deixou escapar que, na dúvida, fica parada. Que sofre. Achou mais fácil no treinamento. Profusão de palavras que renderiam pontos. Na pressa, confessou que vai às lágrimas porque, no fundo, ama o menino da rua debaixo. Oração simples. Correria. Sem rasura e sem erros, falou mal da competição. Fez elogios à calma e à paciência. Prometeu que, dali em diante, comeria devagar. Fim. Comoção. Aplausos e gritos. Linhas de vantagem.

Combate

Depois de roubar, mentiu. Disse que não sabia. Evidências entregavam. Na esperança da confissão, perguntaram de novo. Tiraram fotos, anotaram e liberaram. Avisaram que ficariam de olho. De binóculos, vigiaram na moita. Posicionaram câmeras. Fez, na hora e do jeito esperado, o que imaginavam. Registraram. Prisão em flagrante. Apesar da culpa indiscutível, jurou inocência. Lavou a cara e proferiu ofensas. Declarou que, na verdade, não era o que pensavam. Defendeu o combate à crimes alheios.

Dianteira

A ferradura, menor que a pata, machucou o equino. Dianteira direita. Competiu com dores. Pra trocar, teria que voltar em casa. Largou em quinto, chegou em quarto e, de imediato, arrancou a chapa de ferro. Alívio. Jogou água e fez massagem. Só botou de novo porque descalço é pior. Saiu com pressa. No ônibus cheio, não tinha lugar. Viajou em pé. Puxou a corda e desceu com cuidado. Ao invés de galope, trote. Chegou destruído. Tomou banho, trocou de roupa e deixou a cadeira em frente ao sofá. Aplicou gelo na sola. Comeu pouco e, preocupado, dormiu mal. Precisava correr no dia seguinte.