Concreto

Sérgio, distraído, tropeçou. Tava de tênis. Se tivesse de chinelo ou descalço, poderia ter machucado o pé. Passado o susto, chegou no palácio. Deu bom dia ao mordomo, entrou no quarto e dormiu. Não reparou no buraco na parede. De tamanho suficiente pra passagem de animais pequenos, oferecia perigo. Só de noite, depois de quase cortar o dedo com a faca de pão, notou a presença do vão no concreto. Botou a cabeça pra ver do outro lado. Como a cavidade era num canto e o salão era grande, escutou a conversa sem ser percebido. Falavam dele. Diziam que, por mais que quisessem, era impossível gostar. Listaram defeitos. Trouxe o crânio de volta pro aposento e tapou o furo. Triste pela descoberta, resolveu ir embora. Agiu como se não soubesse e anunciou a decisão. Ouviu, incomodado, pedidos pra que ficasse.

Seringa

No laboratório, misturou elementos incompatíveis. Deu errado. Devido às características, reagiram mal ao convívio no tubo ensaio. O de raio iônico avantajado, expansivo, ficou calado. Titânio no meio, fósforo na ponta e tensão no ar. Nenhuma substância agregadora. Márcio esperava adaptações. Tirou todo mundo e mudou a ordem. Bateu no liquidificador, espremeu e apertou na seringa. Na esperança de funcionar, ofereceu recompensas. Chorou, contou pra família e comentou com amigos. Tentou de novo. Jogou o material intransigente num balde de concreto. Adicionou água com gás, manteiga e goma. Tapou com cimento e foi embora. Quando voltou, abriu pra ver. Ambiente seco.

Repouso

Uma por minuto. Pra completar trinta, faltavam vinte. Dava tempo. Começou pelo Pai Nosso. Ave Maria, Salve Rainha, Glória ao Pai e Repouso Eterno. Desatento às mensagens, prosseguiu. Credo, Confissão e Sinal da Santa Cruz. Parou pra respirar. Ato de Contrição e Profissão de Fé. Possuído pela pressa, olhou no relógio. Tinha dez minutos. Novena ao Menino Jesus de Praga, Invocação ao Divino Espírito Santo e orações da Manhã, Tarde e Noite. Desesperado, disparou. Atropelou palavras. As cinco últimas, pra santos famosos, saíram de qualquer jeito. Pedro, Jorge, Antônio, Sebastião e Rita. Fim de papo. A beata, atenta, mandou repetir um monte. Não gostou da postura de Leonardo. Ficou puto. Em voz alta, dirigiu ofensas à orientadora. Criticou a instituição. Resmungou, implorou e, sem saída, voltou às preces.

Despedida

Não entrou na página de Carolina. Quer conhecer aos poucos, de acordo com a evolução natural da relação. Segurou o ímpeto. Na hora de clicar, num estalo, refugou. Pra não saber demais. Não revelar o passado, fotos ou frases escolhidas. Só quis lembrar. Do cheiro no pescoço e do gosto na boca. Do que disseram e ouviram. Pra garantir a descoberta gradual, descartou o acesso. Seria impróprio, improdutivo. Ficaria exposto aos ideais, amigos e comentários. Tiraria conclusões. Alheio às informações publicadas, imaginou o rosto com a cabeça. Cabelo, corpo e acessórios. Reconstituiu olhares. Pra ganhar intimidade, deu tempo. Conseguiu controlar. No próximo encontro, marcado na despedida, mata a saudade. Das teorias, sorrisos e movimentos. Da timidez e da tatuagem.

Teste

De cima da escada, gritou pra baixo. Elaine ouviu e passou direto. Nem olhou. Os amigos, interessados na consequência, subiram com o peso. Um aparelho novo, de materializar idéia. Dispensa caneta e papel. Tem botão pra apertar, espaço e cores. Chegaram no topo e deixaram em pé, virado pra janela. Deitaram de bruços. Reposicionaram o tapete, levantaram e observaram. Primeiro teste. O dono que começou. Uma frase simples, com sujeito e predicado. Tomaram um susto. O pensamento, preso na cabeça, tomou forma no automático. Nem disse nada. Veio outro, mais magro. Imaginou um desenho animado. Concebeu diálogos, personagens e fotografia. Roteiro escrito. Traços e movimentos em alta resolução. Faltavam dois. Luana e Rodolfo, um de cada vez, compuseram melodias e passos de dança. No silêncio.

Encaixe

Guardou a saudade na gaveta. Escondida do marido. A vontade que tem, presa no armário, já não faz mal. Convive. Quando lembra, disfarça. Finge que não pensou. Apostou no desapego aos beijos que ganharia, ao sexo que faria e aos sorrisos que daria. Paixão legítima, sincera. Química, física e histórias. Conhecimentos gerais. O encaixe perfeito esbarrou nos detalhes. Religião, política e economia. Vive com Otávio. Suporta a falta de odores, cores e sons. Mau gosto. Correria a mil pros braços de Mateus. Entre o que é e o que seria, do melancólico ao paraíso, abismo. Incertezas tantas que, na prática, fica parada. Envelhece.

Coceira

Movimentos involuntários perseguem Vitor. Pisca, entorta o pescoço e faz bico. Anda preocupado. É observado por quem passa. Evita interações pra ninguém perceber. Em momentos cruciais, esconde o rosto e concentra. Olhos fechados, pescoço firme e lábios imóveis. Atento, tenta controlar. Esquece e dispara de novo. Superada a coceira na nuca, começou a trincar os dentes. Balança a cabeça. Mãos no cabelo e assovios desconexos. De resto, é normal. Raciocina acerca de temas e possui opiniões. Não fala porque tem vergonha. Escreve e entrega. É solitário. As mulheres, assustadas, se afastam. Não gostam. Pretende superar a disritmia com tratamento adequado. Força da mente. Gasta tempo diante do espelho. Focado. Quando chamam pra conversar, numa boa, vira a cara e bota a língua pra fora.

Formato

Agora, quer mais de quatro. No mínimo cinco. Nos primórdios, conseguiu 12 duas vezes. O rendimento caiu aos poucos. Oito, seis, três. Um e nenhum, por exemplo, viraram rotina. Nivelou por baixo. Entende que é normal. Questão de tempo e entusiasmo. Esses dias, sem pretensão, chegou ao quinto de vinte. Ficou feliz. Se empolgou e tá convencido de que, com carinho, volta às dezenas. Escolheu assunto, palavras e formato. Copiou o que fazia. O resultado almejado, entre sete e nove, depende das impressões. Tá pronto. Dormiu no almoço e lanchou de tarde. Deixou pra de noite. Reavaliou, adicionou conceitos e acelerou o ritmo. Parou. Espera que o plano, de retomada, funcione a contento.

Código

Orgulhoso da urina que expele, olha pra baixo. O líquido, transparente, entra no cano e sai pela cabeça. Cai na água parada. A aparência saudável, adquirida recentemente, contrasta com a dos maus tempos. Era escura. Balançou o pau pra secar. Deu descarga, lavou a mão e passou na toalha. Quis mijar outra vez. Abriu o fecho éclair e botou pra fora. Levantou a tampa. Apontou e, durante a ejeção, pensou em código Morse. Numa combinação simples, decifrada por quem conhece. Acabou e saiu do banheiro. Pouco depois, sentiu de novo. A terceira, mais longa que as antecedentes, secou o organismo. Pulmões, bexigas e intestinos. Sedentos.

Bolo

O indicador, dormente, deixou Flávio. Usava pra apontar, digitar e enfiar na orelha. Percebeu que faz falta. Quando acordou, sentiu. Quis controlar. O formigamento incessante, provocado pela pressão, levou o fura bolo. Entre os dedos, burburinho. O médio e o polegar gostavam do vizinho em comum. Ajudaram no que puderam. O anelar e o mindinho, de mal, torceram contra. Pra que caísse e morresse. Os da outra mão também. A redenção da canhota, sonho antigo, dependia do infortúnio alheio. Contou pros amigos, familiares e pro médico de branco. Especialista em sensibilidade, pediu atenção. Passou pomada e exercícios localizados. Besuntado, puxado e exigido, melhorou. Piorou de novo e, de tão podre, perdeu as forças. Foi arrancado em seguida.

Recado

Fez o que não gosta que façam. Silêncio. Sepulcral, magoou Lorena. Queria satisfação. Resposta positiva pros anseios. Perguntou de novo. Insistiu. Brigou só, chiou e mandou recado. Já esteve do outro lado. Angustiado, deprimido. Suplicava atenção. Agora mudou. É cobiçado. Como não gosta, desdenha. Explica calado. Poderia falar amenidades, fingir interesse e dar esperanças. Passou um dia. Dois, três. Dúvidas acumuladas. A moça, sem confirmação oficial do descaso, abandonou o orgulho. Pra ter razões. De preferência, boas notícias. Impossibilidade real. Um imprevisto que justificasse o mutismo repentino. O rapaz, indisposto, pensou no assunto. No que seria caso dissesse. No futuro compartilhado, mentiras e desculpas pra não ver. Até cansar. Das opções, prefere essa. Deixa quieto e sente pelo transtorno.

Palácio

O fato histórico fez aniversário de novo. Dia 20 do mês passado. Na época, pessoas reunidas em prol de um ideal suplantaram as defensoras do raciocínio inverso. Os oprimidos tomaram o palácio das orquídeas. Antes de partirem pra ignorância, sofriam em silêncio. Suportavam maus tratos. A falta de consideração e respeito cresceu tanto que reagiram. Primeiro avisaram. Disseram que não podia continuar do jeito que vinha sendo. Ultrapassado o limite da tolerância, organizaram grupos de combate. Quem quis, participou. Os mais corajosos assumiram os riscos. Destruíram o salão de festas e queimaram as carruagens. Até então, o Rei tava tranquilo. Mandou a cavalaria resolver o problema. Homens que, armados e orientados, não pensavam duas vezes. Briga daqui, briga dali, mortes e feridas. Naquele ano, caiu segunda-feira. Regime novo.

Palito

O fogão na sala parece móvel. Parado. Não cozinha faz tempo. O novo, inteiro, assumiu a função quando chegou. Possuem a mesma quantidade de bocas que emitem chamas controláveis. No velho, duas estragaram. Também parou de assar direito. O peixe, comprado na feira, virou fritura. Enferrujou por dentro e teve escapamento de gás. Um dia, arrancaram a mangueira. Tiraram do lugar e deixaram entre a televisão e a porta. Por conta do tampo, serve de apoio pra miudezas. Carteiras, óculos, telefones e chaves. Não gosta. Puto com a serventia atual, quer vingança. Precisa de combustão. De uma faísca que ajude a explodir o vidro e incendiar os papéis.

Canga

Na cadeira de praia, regulável, sentou de biquíni. Cor de abóbora. Passou protetor nas pernas, na barriga e na parte exposta dos peitos. Após duas borrifadas, aplicou o produto no pescoço e no rosto. Faltavam costas e bunda. Levantou, resolveu a questão das nádegas e uma parte do dorso, inacessível às próprias mãos, ficou desprotegida. Deitou de bruços na canga rosa. Dormiu meia hora. Espreguiçou, bocejou, tomou coragem e foi pro mar. Superou o efeito da água gelada nos pés. De frente pro horizonte, afundou a cabeça. Deu cambalhota, pegou jacaré e nadou cachorrinho. Subiu e desceu no embalo das ondas cheias. Furou as fortes e mergulhou na calmaria. Saiu quando bastou.

Ardósia

As pedras, por incrível que pareça, boiaram. Arthur que jogou. À beira do rio, distraído e descansado, esperava pelo comportamento padrão. Tacou outra pra confirmar. Intrigado, procurou rochas de tamanho, composição e densidades diferentes. Todas flutuaram. Pra entender, começou a estudar. Comprou livros e equipamentos. Entrou pra ver de perto. Pouco versado em natação de água doce, afundava e reagia. Fazia esforço pra não morrer. Pegou com a mão, observou com calma e confirmou a tese. Era aquilo mesmo. Chamou a esposa. Depois filha, amigos e conhecidos. Na superfície, já coberta de quartzos, esmeraldas e diamantes, não tinha ouro. Primeiro teste. Diante dos presentes, arremessou a pepita. Passou um tempo no ar, quicou e parou entre o mármore e a ardósia.

Frio

O jambo no pé, pendurado, não caiu a tempo de ser comido pela menina. Ficou triste. Dentre as opções, escolheria Gabriela. Quem deglutiu foi Luciana. Nessa hora, o fruto quis ficar preso na árvore. Olhava pra baixo com medo de não aguentar. Suou frio. Sem forças, maduro demais, acabou onde temia. A garota faminta mordeu com vontade. Sugou o suco. Até o fim, mastigou. Sobraram o caroço com as sementes e o talo. Como sempre, cresceu de novo. Desceria por Giovana. Mulher inteligente, simpática, bonita e gostosa. Caminhava sorridente pelo pomar. Em outra época, entraria no clima. Faria esforço pra sofrer a queda. Mas tá desanimado. Descobriu que, apesar do impulso, não tem autonomia pra despencar.

Mochila

Pra não gastar tempo útil, fez a barba no trabalho. Desceu a escada, atravessou o corredor e entrou no banheiro. Fechou a porta. Espalhou sabão no rosto e, com a navalha afiada, cortou os pelos. Subiu tranquilo e sentou na cadeira. Viu o e-mail pessoal, pagou as contas de casa e ligou pra um amigo. Levantou e foi na área de lazer pra ter privacidade. Na volta, passou na copa pra tomar café. Bebeu com calma. Chegou na sala, brincou com os colegas e comeu um biscoito. Prestes a trocar de carro, procurou anúncios no jornal. Selecionou alguns, cortou com a tesoura e guardou na mochila. Quando parou pra jogar cartas no computador, percebeu o papel colado na tela. Um cliente, nervoso, queria respostas. Encaminhou o guia do usuário e se colocou à disposição pra ajudar no que fosse possível.

Direita

De longe, trouxeram a rocha. Quadrada, maciça e adequada à construção de muros gigantes. Carregaram na raça o peso desprovido de alça. Um de cada lado, agacharam e botaram as mãos por baixo. Fizeram força pra levantar. Devido à limitação motora das pernas, provocada pela altura dos joelhos, andaram devagar. A passos de lado, seguiram em frente. Olhavam desolados pro meio da estrada. De chão, esburacada e cheia de poeira, parecia infinita à vista que tinham. Terminaria num ponto afastado. Caminharam noites e dias. Pra descansar, repousavam a pedra no solo infértil. Pegavam de novo quando um propunha e outro concordava. Motivados pelo objetivo, concluíram a jornada. Mais magros, pálidos e cansados. Puseram no lugar e voltaram.

Textura

A lua, mais bonita que de costume, chamou atenção. Mãos no volante, olhos no satélite. Passava de carro. Parecia uma moeda gigante que flutuava no céu escuro. O feixe de luz, que caia na água, ia do fundo até o raso. Hipnótica. Cheia, leve e tão próxima quanto podia. Parou no sinal. Antes que o vermelho cedesse lugar ao verde, intensificou a observação. Percebeu as crateras por dentro e a linha bem definida da circunferência perfeita. A cor e a textura. Concebeu o enquadramento ideal. Da janela em diante, viu que, iluminada pelo sol escondido, brilhava no espaço que preenchia. Ponto fora da curva. Na reta. Nenhuma estrela, dentre tantas, apareceu. Entrou à esquerda e virou o pescoço pra despedida. Não tirou foto. Guardou a imagem no cérebro e, graças à fluidez do trânsito, chegou rápido. Numa casa antiga, mal cuidada. Feita de tijolo com cimento. Durante o período de permanência, tirou proveito da visita. Saiu satisfeito. Tanto que, na volta, distraído pelas lembranças, ignorou a paisagem.

Rabada

Infiltrado no grupo, de gente que só come grão de bico, tem um onívoro. Encarna o personagem. Critica carne bovina, peixe e porco. Fala mal de galinha, cordeiro, doce de leite e bolo de chocolate. O pessoal gosta. Tanto que, nas reuniões, é um dos que mais pegam no microfone. Começa pelo queijo prato. Passa pela pipoca, alerta contra a maionese e detona o macarrão. Em casa, toma refrigerante com paçoca. Bate pratos de rabada com agrião, cozido e angu com moela. Tem que disfarçar. A mulher interessante, com a qual pretende manter relações sexuais, é umas das principais defensoras da nutrição baseada na leguminosa. Diz que é rica em aminoácidos e serotonina. Que a ingestão traz felicidade. Pela postura proativa, conquistou a confiança da donzela almejada. Até um dia desses. Patrícia, preocupada, chegou nervosa na casa de Felipe. Viu a porta aberta, pediu permissão e entrou sem ouvir o advérbio de negação que saia da boca cheia. Geleia de mocotó com empadão de palmito.

Milho

Pelados, vivem na ilha. Catam coco do pé. Afastam insetos com varas de bambu verde e não transam por questões óbvias. Sonham com as etapas da penetração impossível. Pau mole num buraco fechado. Não tem como. Pra esquentar, dormem abraçados aos bichos de pelúcia que levaram pra viagem internacional. A antipatia recíproca, crescente até o acidente, pouco incomodava. Optavam pela companhia de pessoas que morreram. Quando viram como seria, pensaram em suicídio. Cada um num canto. Bruno, que não sabia fazer comida, ficava atrás de banana e couve. Elisa queria peixe. Por conveniência, se aproximaram. Um fazia fogueira e outro catava milho. Com tempo e possibilidade de exposição contínua de argumentos, eliminaram a discórdia. Superaram as aparências e tiveram vontade de acariciar, dar beijo e fazer sexo. Precisavam pôr fim ao excesso de masturbação. As três tentativas, debaixo da mangueira, perto da pedra e na água gelada, foram suficientes. Constrangimento mútuo e a certeza de que, dali em diante, daria errado sempre.

Crânio

Adriano não tem culpa. O cérebro, cercado pelo crânio, reage a estímulos. Ficou assim pelas circunstâncias. No final da transa dos pais, óvulo e sêmen entraram em contato. Gestação, nascimento e crescimento posteriores transformaram o nada no adulto. Atua em determinado ramo. Gosta de mamíferos marinhos e, desde criança, coleciona caneca de time. Compra arroz, feijão, roupa e, pra ouvir, discos. Não pode ser diferente. Pela estrutura biológica, é impelido ao que faz. Ossos entre as carnes, nervos e tecidos. Coágulos e sinapses. Durante o crime, controlou o tempo. Fugiu em silêncio. Concretizado o ato premeditado, deixou o flagrante no esconderijo. Varreu a casa e passou pano. Tomou banho pelado, botou cueca e leu histórias contadas por autores publicados.

Reto

Na rua sem saída, de mão única, deixam carros e motos. Helicópteros, tratores, caminhões e veículos de tração animal. Passam de jangada. Remaram juntos pro desconhecido mundo misterioso. Recepcionados pelo golfinho de terno, avaliaram o imóvel no aspecto não monetário. Vai reto. No fim do corredor à esquerda, vire ao contrário. De costas pra piscina de água quente. O barulho que vinha do céu, no frio, atrapalhou. Humanos em desavença. Gritos masculinos, femininos e infantis. Desconcentravam o garoto parado. Área cercada. Burburinho de crime. Doze homens uniformizados correm determinados a esquartejar as sobrinhas de Alessandro. Meia idade, calado. Ouve mais do que fala. Pra não interromper, silêncio. Abre a boca e boceja. Acredita que a opinião emitida, após lucubração, possui relevância. Ninguém escuta.

Cadeira

A resposta, seca, deu a entender. Atravessada. Não houve contato visual. Os quatro olhos, dois de cada, apontavam pro lado ou pra baixo. Mãos nas cabeças. Pra não brigar, respiraram atentos ao ato. Interpelada depois do episódio, antes da janta, falou. Geraldo ouviu. O lamento, a confissão e detalhes. Sobre a mudança de hábitos e trejeitos. Distância e seriedade. Poucas palavras. Justificou os passos firmes e a alta velocidade entre cômodos. Má vontade, rancor e raiva. Sentado na cadeira de plástico, tomou a palavra. Desculpas e motivos. Arrependimento, desabafo. Esperança morta. Optaram pelo abandono mútuo. Pra sempre.

Série

No canal de esportes e literatura, falta dança. Política e economia. Medicina especializada em plantas, veterinária e bichos. Ninguém fala de física. Nem direito, remédio, história ou culinária. No cinco, pra criança, tem desenho e peça de teatro. Curta no dois, música no quatro e putaria no 69. Jesus, Maria e José aparecem no religioso. Novela brasileira e série americana são exibidos, respectivamente, no sete e no oito. Desliga. Repensa e liga de novo pra o ver filme que já viu. De um cadáver mal quisto, enterrado de qualquer jeito. Nenhuma surpresa no fim. Fora da aposta, comeu biscoito durante o sorteio. Os números, escolhidos ao acaso, foram anunciados em ordem crescente.

Trinta

A palavra, que veio depois da outra, completou o sentido da frase. Primeira de trinta. Na terceira, uma vírgula só. Nenhuma na quarta. Quinta, sexta e sétima, reescritas, ficaram bem encaixadas. Deram trabalho. A oitava não. Saiu fácil da cabeça e, materializada, cumpriu o papel. Pouco antes da metade, teve dificuldades. Não sabia direito onde estava nem qual era o objetivo. Optou pela inclusão de uma coordenada assindética. Funcionou porque, em seguida, vieram orações simples. Dois pontos, verbos e substantivos. Faltava pouco pra acabar. A falta de tempo, escasso pela proximidade do fim do prazo, pressionava a autora. Usou crase na 28, pronomes pessoais na 29 e finalizou sem reticências.

Sigilo

Todo dia tem um pico. Melhores momentos. No auge da empolgação, percebeu que era. Pensou na produção clandestina de carne de monstro na aldeia fictícia. A parte complicada, de captura da matéria-prima, é resolvida na bala. Do peito pra cima, pra matar. Lavam, tiram a pele, cortam e empacotam. Jogam os restos no triturador. Vendem pra famílias que compram porque não sabem. Acham que é coisa boa, peça nobre do animal comido com frequência. Dividem o lucro, mantém sigilo e consomem boi de verdade. Viu que, por força maior, largou a distração precedente. Tava boa. Interessante e divertida. Foi substituída pelo entretenimento em andamento. 

Talo

As flores, entregues de graça pro homem de uniforme, foram rejeitadas e jogadas no chão. Pisadas pelas botas. Brancas de caule verde, tinham que ter sido mergulhadas num vaso com água. Ou plantadas na terra adubada. Acabaram sufocadas no asfalto quente. As marcas do calçado, de cano longo tamanho adulto, apagaram a ternura que sobressaía. Agora estão mortas. Deslocadas da vertical pra horizontal. Amassadas até o talo. São órgãos reprodutores de angiospermas que, em posse de quem cuida, regados, produziriam sementes. Perfumariam e embelezariam espaços abertos ou fechados. Na despedida, quando retiradas do jardim pela menina que levou, cumprimentaram árvores, riachos e animais que cantam. Saíram convictas. De coração aberto, viajaram em prol da justa causa. Não contavam com a reação violenta ao carinho explícito.

Masmorra

Puto, acabou com a brincadeira. Ponto final na longa prosa. Lenga-lenga. Saiu decidido da masmorra do castelo dos senhores do mal. Munido de armas poderosas, disparou contra os opressores. Manifestou o desacordo com as circunstâncias, esbanjou valentia e aniquilou os inimigos. Botou fogo no imóvel gigantesco. Jogou praga na floresta tenebrosa e derrubou a ponte do rio de ácido sulfúrico. Apagou da mente. Esses dias, no inverno, encontrou uma princesa desertora no parque das plantas azuis. Era filha de outro rei que destratava os servos. Reclamou do pai, contou detalhes da própria fuga e comentou sobre atualidades. Fizeram o que diz respeito a ambos. Não transaram.

Sistema

A mulher, de capuz, pediu ajuda. Alan concedeu e ficou feliz. Tarefa simples, corriqueira. O diálogo travado, acerca da enfermidade sofrida, durou pouco além do período de auxílio. Problema relacionado ao sistema locomotor. Contou que vai longe, num profissional específico. A despedida, anunciada pelas circunstâncias, foi tranquila. Uma pergunta, um agradecimento e uma consolação desnecessária. Deixaram transparecer o apreço mútuo. Seguiram na mesma reta. Em velocidades diferentes, experimentaram a consequência das impressões que tiveram. Depois passou.

Passou a tarde tentando levantar. Caiu de costas. No começo, partiu pra ignorância. Executou séries de impulsos mal calculados. O esforço, repetitivo, ampliou a dor. Parou um pouco. Virou de lado, encaixou o quadril e respirou fundo pra acumular energia. Nem no tranco. Dispensou a ajuda de amigos e familiares. A idéia seguinte, mais elaborada, falhou também. Na que deu certo, arrastou o corpo até a escada. Deixou as pernas descerem pelos degraus pra coluna chegar no ponto. Apoiou um pé na base do corrimão e, com os cotovelos, iniciou o processo de elevação da estrutura. Foram três etapas. Passou da primeira com facilidade. Na segunda, quase volta pra anterior. Concluiu a terceira e foi direto pra onde quis.

Narrativa

Depois insistir no oposto, quer desconcentrar. Desperdício. Impediria a ocorrência de pensamentos relevantes. Mas tá cansado. Mentalmente cansado. Precisa cair no sono pra acordar bem. As linhas de raciocínio, em profusão, sucedem as antecedentes. Aparecem, evoluem e desaparecem. Parou na que gostou mais. Na narrativa, minuciosa, de cada passo dado por um artista fictício. Teodoro. No oitavo, destaque pra extensão acima da média. Descreveu o motivo da singularidade do movimento. Dormiu tarde. Assim que, vindo da rua, o escultor subiu as escadas e sentou no sofá.

Negativa

Quando chamou de fofo, ficou todo bobo. Depois de tanto tempo. Um beijo que, de tão bom, lembrou outro, que usa como referência. Têm gosto do que gosta. Acordou feliz. Lembrou detalhes da noite rara. Do enredo e da despedida. Das promessas. Ansioso, segurou o ímpeto de fazer contato antes da hora. Esperou um pouco. Chamou pra sair no fim de tarde, crédulo em relação à reciprocidade da pretensão. A negativa, plausível, não fez mal. Três convites e nada. Juliana perdeu a vontade. Passou. Parou de insistir pra continuar tudo bem.

Começo

Talvez o livro faça Angélica desaprender. Tá mal escrito. Apresenta diálogos irritantes, construções horríveis e citações inúteis. Exige boa vontade e paciência de quem se propõe. Perseverança. O contentamento, pra que seja alcançado, pressupõe déficit de raciocínio. Constrói situações esdrúxulas. Os personagens, nada interessantes, recebem descrições tão ruins quanto às das paisagens e imóveis visitados. Fica difícil insistir. Se quiser, pega outro, abre e lê. Não faz porque não consegue. Espera que o romance melhore, engrene. Sofre de página em página. Pra descansar, dá uma volta. Pondera e volta. Pega no volume com vontade. A primeira frase já chega de sola. Incomoda, é desagradável. Pra desgosto da mulher teimosa, o estilo é mantido ao longo dos parágrafos. Tá no começo ainda. Pensa. Reflete e, na dúvida entre parar e continuar, agoniza.

Filtro

Na lista de itens, incluiu o que precisava. Pá, enxada, cimento e pedra. Tijolo, um balde pra encher de areia e demais artefatos relacionados à construção de residências. Já tinha espátula e nível. Começou pelo quarto. Produziu argamassa, levantou paredes e rebocou. Foi no banheiro do vizinho. A sala, com dois ambientes, deu trabalho. Depois, na varanda, prendeu ganchos pra pendurar a rede. Botou azulejo na piscina e terminou de fazer a churrasqueira. Perdeu tempo na cozinha. Colocou armário, pia e torneira. O filtro, de água gelada, foi instalado pela empresa que vendeu. Saiu pela porta de madeira, fixada por dobradiças. Chegou em casa de noite. Desentupiu a privada e consertou a geladeira. Tomou banho, viu televisão, jantou e dormiu. Acordou cedo pra pintar.

Energia

Os sentidos de Vagner, focados no retângulo, desprezam o entorno. Mulheres que passam, paisagens e comentários. Ruídos e odores específicos. Numa dessas, perdeu Marina. Andava pela calçada. Sozinha, pensativa. Com uma pequena dor provocada pela saudade que sente. Tenta esquecer. O rapaz, vidrado no paralelogramo, gostaria de apreciar o corpo em questão. Participa de um grupo de fotógrafos amadores. É uma figura vazia, sem alma. De quatro lados e ângulos retos. Fabricada, inanimada e protegida. A forma geométrica, cuja área é o produto da base pela altura, possui diagonais congruentes. Tem um ponto médio e, movimentada pelas mãos de quem carrega, consome energia.

Compromisso

Tranquilo e calmo, passou fácil pelos olhos de quem viu. Relaxado, descansado. Bebeu café com leite na mesma proporção. Comeu pão. Logo cedo, saudável e despreocupado, começou a fazer o que queria. Com tempo de sobra. Num clima agradável, desprovido de calor e frio, seguiu rumo ao futuro próximo. Suave e sereno. Nenhum compromisso, favor ou obrigação. Bem disposto, perto de bichos que voam e cantam, caminhou e escutou. Aproveitou a leveza rara de uma manhã de paz. De cabeça fresca, sossegado, inalou o oxigênio disponível. Sentiu a brisa que passeava sem pressa.

Parque

Provocaram vaias de quem esperava o oposto. As faces aglomeradas exprimiam decepção, tristeza, incredulidade e um pouco de raiva. Queriam presenciar uma apresentação agradável, de qualidade. Dentre as infinitas possibilidades de materialização histórias do gênero, uma aconteceu. No parque. À tarde. Na frente de pessoas atentas, outras desempenhavam funções. Pouca gente gostou. Ao contrário dos demais, ficaram até o fim. Passaram felizes por quadras vazias e vendedores de produtos alimentícios.

Loja

Muito usado, sofreu assepsia. Parou na máquina de lavar junto com a toalha. Girou em torno de um eixo e, após o enxague automático, passou um tempo na corda. Voltou pra porta de casa. As visitas, de pés sujos, pisaram em cima e arrastaram com força. É novo, comprado na loja. Felpudo, azul claro e retangular. A quantidade de lama, suficiente pra impregnar a peça, saiu dos sapatos de Laura e Ivan. Chegaram tarde, depois da chuva. Sujaram o corredor, molharam toalhas e pegaram roupa emprestada. Comeram a comida e, bem humorados, animaram os anfitriões.

Planeta

De Júpiter, pulou pra Saturno. Passeou num cometa. Visitou a órbita de Mercúrio, próximo ao Sol, e caiu no buraco negro. Saiu no susto, conduzida por estrelas. Plutão, planeta pequeno, também recebeu a menina. Passou direto pelo sábado. Domingo e segunda. Acordou na terça, cercada por marcianos. Em Urano, falou com Lígia, rainha dos súditos. Vênus é quente, cheio de animais dóceis que não conhecia. Abandonou Netuno por necessidade. Fez amigos, um caso e exercícios. Da Terra, levou água pra beber. No espaço.

Parte

Robson foi o primeiro. Tem um astral bom, conversa tranquilo e não incomoda. É gente boa. Vai, volta e sai correndo de novo. Animado, brinca com o pessoal. Quer ser feliz no futuro. Fazer as coisas, aproveitar e aprender. Não menciona a parte ruim. Diz que tá tudo certo e que, sem problemas, pode ajudar. Atura gente chata. Gananciosos, cínicos e mentirosos. Gérson, mal humorado, chegou em seguida. Reclama, briga e insiste. Sempre toca no assunto. Almir chegou depois. Calado, tenso. Adriana veio de longe e Clarisse, última a chegar, foi embora cedo.

Galpão

Sobraram elogios e manifestações de idolatria ao herói fantástico. Ganhou presentes. As mulheres, no fundo, bateram palmas. Combate o que tá errado. Desvios de caráter, agressões verbais e pensamentos nocivos. Esbanja poderes. Não usa força. É fraco. Quando tem a palavra, opina sobre os problemas. Desafiou a morte por um motivo. A missão de agora, habitual, é contra a proliferação de ideias ruins defendidas por pessoas reunidas num galpão. Chega a pé, aparece de surpresa e faz o serviço. Condena. De cabeça quente, toma banho frio. Joga cartas no quarto e dorme depois de ler.

Alto

Casou e teve um filho com o cara errado. Limitado intelectualmente, insosso e frígido. Pra mulher, que gosta de sexo, a rotina é desagradável. Brigam pelos motivos que aparecem. A ausência de paixão e carinho, somada à falta de companheirismo, mantém o clima pesado. Ângela, agora, nem tenta. Finge que tá dormindo, sai de casa e explica pras amigas. Por alto. Quando percebe a aproximação, disfarça. Aprecia o homem que vende roupas. Solteiro, gente boa e viril. Não há reciprocidade. Na rua, observa pessoas aparentemente felizes e fica com inveja.

Escada

Cristina tem chorado muito. Comovida pela história, derramou lágrimas em diversos pontos da trama. Na morte, na prisão e na volta por cima. Na cena da mãe. Durante a luta e na queda da escada. É comum. Na ficção, verdade, música ou esportes. Drama ou comédia. Admira a honestidade, a coragem e o altruísmo. Quando acabou, havia água salgada nos olhos e no rosto. Emocionada pela grandeza alheia, caiu em prantos.

Abstinência

Desde a última vez, não olhou mais naqueles olhos. Não beijou a boca. Sofre de abstinência específica. De um abraço em particular. De uma pessoa só. Do cheiro agradável, do gosto gostoso e do movimento das mãos. Do frio na barriga. Dos bate-papos, das risadas e das brincadeiras libidinosas. Das manhãs, tardes, noites e madrugadas. Dos passeios. Dias em casa. Jogos indecentes e danças sensuais. Sexo de sobra. Do amor, carinho e atenção. Sente falta.

Discurso

Repetitivo, falou de novo o que tinha dito mais de uma vez. Usou gestos conhecidos e a entonação de sempre. Com poucas palavras diferentes, expôs o mesmo ponto de vista. Precisa mudar de assunto ou renovar argumentos. Os interlocutores, que não são bobos, percebem. Cansaram da ladainha. Mantêm distância, não prestam atenção e utilizam expressões curtas de concordância. Pra recuperar os ouvintes, precisa compartilhar idéias novas. Elaborou um discurso inédito entre os que já fez. Sobre o comportamento de membros da sociedade. Aguarda retorno.

Vestido

Saiu em busca de qualquer mulher. A primeira que aparecesse. Tava difícil, fim de noite. O show, de música típica, acabou cedo e o pessoal foi embora. Ficou pouca gente. Sem condições de escolher, já desesperado, investiu numa mocréia de vestido verde. Bem recebido, contou histórias e teceu comentários. Um beijo sem graça. No caminho de casa, carente, viu que não se divertiu. Fez um exercício na cama. Abriu a mente pro aparecimento de um rosto qualquer. O primeiro que viesse. Imagens desconexas. Nariz de uma, bochecha de outra e vultos. Até Gisele.

Bigode

Sem barba, Diego lamenta. Queria ter. O crescimento contínuo de pelos na face daria alternativas de composição visual. Entre elas, o cavanhaque. Não se incomodaria de fazer. Teria um barbeador potente, loção e creme. Quando quisesse um estilo rústico, deixaria cheia. Desleixado, mal feita. Pra ficar de cara lisa, do jeito que tá, rasparia. Possui cabelo na cabeça, pernas e axilas. No pênis. Imagina como seria. Desenha. O que existe, infelizmente, é muito pouco. O bigode é razoável. O resto é ralo e falho.

Descanso

No período de descanso, beberam água. Jogaram a sobra na cabeça. Foram tentar a sorte no castelo das princesas. Mulheres jovens, belas e recatadas. A insegurança, esmagada pela autoconfiança, ficou pequena. Correram debaixo do sol entre árvores e riachos. Suaram. Os animais ao redor, providos de olfato, notaram a catinga. Chegaram bem vestidos ao encontro das donzelas. Saíram juntas do casarão. Perfumadas, abriram a porta com delicadeza. Andaram poucos metros e receberam a abordagem dos pretendentes. Não sentiram o cheiro porque estavam com nariz entupido.

Nitidez

Vou te comer. Te tocar. Ler, usar, ligar e apertar. Falava com apetrechos. Respectivamente, amendoim, pandeiro, livro, camisa, ventilador e desodorante. Retirava itens de cima do que arrumava. Ficou só o colchão. O que pegou, guardou no armário e fechou. Permanece na dúvida quanto ao que será. Tenta sonhar com o futuro ideal. Não consegue. A imagem, do que seria perfeito, não chega. Talvez num jardim, cercado por animais calmos, lagos e árvores. Também não é isso. Ficaria chato, precisaria de alguém. De alguém que, em pouco tempo, faria mal. Dentro da música. Sexo explícito. Romances completos. Esportes ou computadores. Mulher, casa, trabalho e filhos. Não enxerga direito, não há nitidez.

Batidas

Cansou da música. Dos reencontros. Das pessoas por perto, sem graça. Ficou viciado. Num jogo qualquer, que entretém. Enche a mente de repetições. Dispensa intimidade. Repudia faces conhecidas, piadas batidas e idéias cansativas. Parou de ligar e de se importar. Torce pra ninguém chegar. Quando precisa, escuta e cala. Depois passa. Se mantém indisponível, escondido. Num céu nublado, sem chão, aprecia a paisagem. Colorida.

Presença

Único branco entre os pretos, desagrada. Não é bem quisto. O responsável pela ocupação do espaço, insatisfeito com a presença, pretende eliminar. Precisa de uma pinça. Será arrancado e jogado fora. Porque destoa. Cercado, não sabe de nada. Pensa que tá tudo bem. Talvez permaneça intacto. Depende do dono. Caso esqueça, fica onde está.