Chá

Perto de quem não ama, passou um cara. Não tem certeza. Pelo barulho, foi beijo. Ou abriram uma lata. A primeira opção explica o descaso. Interesse falso, mentira. A falta de vontade, evidenciada pelas atitudes, motivou a desistência. Ninguém insistiu. Descartaram a proximidade e foram pra longe um do outro. Despedida fria. Poderia ir junto, conversar mais e perguntar pra saber. Não quis. Se fosse refrigerante, tudo bem. Cerveja, só tinha de garrafa. O suco vinha em caixa e o chá, gelado, não estava a venda. Voltou direto pra casa, pra cama. A moça, cobiçada no passado, sumiu do presente e do futuro. André dormiu.

Solo

Malha pra gostar minimamente da imagem refletida no espelho. Sabe que não fica perfeita. A flautista, sem banda, podia escolher qualquer uma. Colocou um disco. Ligada no som, principalmente nas intervenções do instrumento que assopra, fritou ovo. Botou sal depois do solo. Pra Bianca, ninguém vive tão intensamente quanto a letra supõe. Acabou uma e começou outra. Na introdução, imaginou um produto pra eliminação instantânea do que quisesse. Pra lixo e afins. Pro companheiro, na sala, é indiferente. Construída através de diálogos, interações visuais e contatos físicos, a relação vai mal. Dividem espaço e acumulam episódios.

Limão

Pra fazer um pão na chapa da melhor qualidade, investiu tempo. Visitou padarias e comprou manteigas de marcas diferentes. Na frigideira, de metal representativo, repousou o alimento que tem miolo. Passou ambos os lados e, quando começou a torrar, retirou. Levou à boca depois de assoprar. Deu um pedaço pra quem tava perto. Perguntou a opinião e ignorou o elogio. Arriscou uma receita inédita, com limão no lugar do laticínio. Funcionou mal porque ficou ruim. Na tentativa x, acertou a mão. Anotou as quantidades de cada ingrediente, marcou o período de permanência no fogo e saiu pra caçar pato. Consome a iguaria nos intervalos, junto com café.

Sunga

É possível pensar em almofadas. Num avental frio, descontos. Correria. Paralisia de circuitos pintados. Da janela, sorvete. Tatu misturado na infância com pérolas de vento velho. Desejo. Convencimento composto de pele curtida no alho. Sunga de galo. Meio-dia, semente e doença. Caçamba de prego que voa baixo. Cabideiro de coelho. Concreto no espelho. Jóias salgadas por tempo de permanência. Ângulo reto. Prancha no céu, perfumada contra a parede. Palavras decimais, alpiste na cebola. Descuido. Dormência. Coringa. Martelo. Peruca e tonel.