Diâmetro

No fundo do pote, amassada, sofreu. Foi a primeira. Tinha espaço, tempo e orgulho. Pensou errado. Pareceu, pra ela, que valia mais. Caíram em cima. Muitas. Pesaram. Sufocada e irritada, gritava. Queria ar. Era igual. Todas que chegavam, quietas, eram iguais. Diâmetro, cor e aparência. Por excesso de companhia, perdia o ar. Se contorcia. Até que um dia, descrente, foi salva. Foi pra outro canto. Espreguiçou.

Dinheiro

Feliz com a economia, ficou em casa. Tá duro. Viu filme de graça, tocou o violão que já tem e comeu o que tinha. Pra sair, ida, entrada, consumo e volta. Muito dinheiro. Ligaram no meio da noite. Mais de meia-noite. Disseram, aos berros, que tava ótimo. Que devia ir. Balançado, pesou. Tava bem sozinho no quarto. Tava sozinho. Seria bom chegar na festa. Lembrou de quando, em ocasiões parecidas, valeu a pena. Lembrou do contrário.

Ninguém

Na saída, beijou a barriga. Abriu um sorriso, deu tchau e foi embora. Ficou sozinha. Nervosa. Não conta pra ninguém que, na época, transou com Diogo. Pra isso mesmo. Pra ter um filho dele. Calculista, convenceu o marido a copular no dia seguinte. Agora torce. O cônjuge, certo de que é o pai, tá feliz. O então amante não faz idéia. Não sabe que a futura mãe, naquela noite, mentiu.

Papel

Escreve o que não diz. O que não sai da cabeça. O que, um dia, pra passar, precisa falar. Com medo de que a ação elimine a esperança, só desembucha no papel. Extravasa. Deixa muito claro o que sente por Eliana. Em frases escondidas, abre o jogo. Conta o que dói, o que encanta e o que sonha. Descreve e projeta. Pra ficar por perto, convites. Amizade e silêncio. Um cara desinibido, que não conheciam, veio e fez. Deu certo. Nas anotações, pesar. Torcida ferrenha pra que não evolua.