Destaque

Separou em temas e enumerou com parênteses fechados após cada algarismo. No primeiro, vida a dois. A um no segundo. Convivência em grupo, pessoas estranhas, alienígenas e bichos que falam. Das tentativas de agradar a si próprio, através da produção de teorias interessantes, destaque pra última. Tópico seis. Foi a menos pior. Ciente da ruindade do trabalho, ficou insatisfeito. Voltou ao assunto identificado pelo numeral que antecede o três. Pra descansar um pouco, fez uma pausa rápida. Mudou de idéia e priorizou a tese acerca de indivíduos esquisitos. Incluído na dissertação pra dar outro exemplo, achou razoável.

Tinta

Caminhões grandes, numa noite chuvosa, andavam em alta velocidade no sentido contrário da pista. Botavam medo no motorista que vinha de frente. Tanto que fechava os olhos quando passavam do lado. Num carro de passeio, com o limpador de para-brisa ligado, guiava nervoso com duas mãos no volante. Ônibus também assustavam. Tá melhor que antes, mas não dirige bem ainda. Precisa de estrada. É relativamente jovem, tem 34 anos. Do nascimento ao sexo, 16. Não lembra como gozou. De propósito, pra esquecer, produz pensamentos desconexos. Latas de água doce sem pirulito descascado no planeta. Passou tinta colorida na massa cinza. Pra superar, adotou uma tática. Manteve os olhos abertos, aguentou o frio na barriga e seguiu na faixa que ocupava.

Moita

Após investigação e confirmação das suspeitas, saiu pra almoçar. Pediu carne assada com linguiça. Aborrecido, comeu tudo enquanto elaborava estratégias de punição ao desafeto. De sobremesa, bolo de abacaxi. Voltou satisfeito, fez telefonemas e escreveu mensagens. Pôs em prática o plano arquitetado durante a refeição. A etapa inicial, de divulgação seletiva do ocorrido, surtiu efeito. No lanche da tarde, composto por dois salgados e um suco de caju, definiu a seguinte. Comprou cinco caixas de bola de gude e um estilingue. Improvisou uma espécie de moita e, ligado na movimentação local, aguardou a passagem do alvo. Acertou a primeira na testa, a segunda na barriga e errou a terceira. Sem saber a origem dos projéteis, a vítima correu pra trás de um anteparo. Conviveu com a dor, esperou a poeira baixar e deu as caras pra averiguar a situação. William continuava a postos e não perdeu a deixa. Uma das esferas de vidro, impulsionadas pelo elástico, pegou na perna e produziu um hematoma.

Cronômetro

Escondida na seção de frutas, a gelatina de limão muda de cor. Do verde, passa pra preto, vermelho, branco, azul, rosa e amarelo. Volta pro verde. É um produto novo, desenvolvido no laboratório de pintura e gastronomia. As trocas, efetuadas em intervalos de vinte segundos, intrigaram Danilo. Usou o cronômetro pra comer tudo no vermelho. Aproveitava enquanto podia, esperava dois minutos e voltava à ativa. Achou saboroso e ficou satisfeito pela ingestão de proteínas. O pó mágico, vendido em pequenas caixas, substitui alimentos do gênero. Quem achar a unidade camuflada entre bananas e tangerinas leva um brinde do fabricante.