Parede

A cabeça do galo, menor que a da média, cabia no buraco da parede. Descobriu no dia que tentou. Viu que, do outro lado, galinhas ciscavam. Nunca tinha visto. Naquela fazenda era assim. Pra que procriassem, botavam vendas em ambos. Tinham dificuldade pra acertar. Gostou dos corpos femininos e focava nas diferenças. Passou a botar, todo dia, a cabeça no buraco. Viu os ovos e ficou confuso. Depois viu os pintos. Vários. Alguns mamavam e outros não. Nunca entendeu. As penosas, no susto, descobriram o observador. Foi Margarete que percebeu. Contou pras outras. Cacarejavam sobre o diâmetro diminuto daquela caixa craniana.

Altura

Na balança, pesou os dois. Escolheu dinheiro. Parecia seguro. Tem roupa, comida e viaja. Volta mal. A companhia, chata, não dança. Não fantasia. Seria melhor se, àquela altura, tivesse priorizado a garantia de sorrisos bobos. Afeto. Sobre a vida, se engana. Diz que é assim mesmo. Que é triste. Protagoniza, nos sonhos, romances que ninguém vende. Faz de conta.

Sangue

Veio pedra. Parada. Pesada. Pra sair do lugar, vento forte. Chute ou tropeço. Alguém que cate. Jogada na cara, tirou sangue. Caiu no chão. Manchada, suja. Na chuva, banho. Alma lavada. Outro baque. De brincadeira, jogaram no rio. Encharcada, distante. No fundo, não tinha saída. Ficou lá. Veio a seca.

Facão

Até ser cortado, tava inteiro. Dobro do tamanho atual. Facão amolado. Quente. Duas pernas pra cada lado. Dois braços. Um coração só, um cérebro e dois olhos. Procura. Faltam pulmões e um nariz. Uma boca a menos.

Efeito

Propenso a tal, chorou à toa. Homenagens, confissões e mensagens. Qualquer coisa. Camisa, cabelo e mania. Conquista. Algumas frases, queria prender. Ficar pra sempre sob o efeito que fizeram. O tempo todo. Entre extremos, gangorra. Lamenta e celebra. Esquece. Respira. Por dentro, lama no arco-íris. Suicídio e ressurreição.