Tropeço

Do início ao fim, flui. Não para. Pesa na raiva, descansa no colo e carinho nervoso. Silencia e volta. Até acabar, te leva. Sem tropeço. Acelera, trava e, devagar, acalma. Grita. Faz sentido. Cresce, ganha tempo e corpo. Completa. É quem, até acabar, te leva.

Pilha

Todo mundo cansado. Destruído. O desgaste, provocado pela repetição incessante, é enorme. Não passa. Acordam cansados, dormem cansados e, no intervalo, cansaço. Não aguentam mais. Não reagem. Gostariam de, amanhã, acordar melhor. Dormem de novo.

Fábrica

Não existe até, de repente, passar a existir. É fruto do sexo. Concepção, fecundação e sai completo. Boca, orelha e nariz. Pronto. Da vagina, qualquer lugar. Qualquer família. Enquanto vivo, toma atitudes. Com o cérebro de fábrica. Envolto pelo crânio de fábrica. Esqueleto e pele. Tudo de fábrica. Ninguém tem culpa. De nada.

Garupa

Não sei onde está. Não vou saber nunca. Nenhuma notícia. Da última vez, na garupa da bicicleta, olhava pra trás. Pra mim. Pra minha mãe. Naquela época, a mãe era nossa. Deixou de ser. Naquele dia. Triste, chorava. Gritava. Soluçava. Queria muito ficar. Não queria ir. Queria ficar. Queria que ficasse. Que soubesse do carinho. Do que guardo. Naquele dia, foi embora. Foi levado.