Adulto

Depois de grandes livros, de muitas páginas, pegou um fininho. Autor despojado. Foi rápido. Absorvido, acabou. Quis outro. Achou melhor. Ficava preso em longas narrativas. Cansativas. Relevo, clima e contexto. Fisionomias. Esse não. É direto. Concentrado na trama, na intransigência dos envolvidos, puxa pro pessoal. Adulto imaturo em xeque. Contemporizador. Indeciso.

Barriga

São unidades. Uma de cada cor. Por mais que insistam, que propaguem a existência da possibilidade, não se fundem. Não dá. Quando o sexo é bom, quase conseguem. Desgrudam em seguida. A orelha é outra. Visão, cheiro e estrutura cognitiva. Saem da barriga. Não ficam. O abraço acaba, o sorriso fecha e os olhos abrem. Sonhos diferentes. Parecidos, coexistem. Dividem espaço. A premissa apregoada, da ajuda mútua, tem limite. Se conhecem. Se distribuem. Histórias e anseios, inacessíveis, guardam. Ninguém alcança.

Água

Com perda parcial de sensibilidade na língua, parou de sentir um gosto. Parecia pesadelo. Trocou de copo, bebeu outra água e foi igual. Notou a magnitude do órgão. Deu valor ao desempenho perfeito e ininterrupto até então. Pra se proteger do desespero, deixou pra lá. Cérebro em paralelo. Se distraiu e, quando viu, tava curado. Era só um talho. Nada demais.

Surpresa

Decidida, ficou em pé. Estranharam. Pegaram, conferiram e jogaram de novo. Mesma coisa. Chutaram. Correram pra ver. Ereta, destemida. Resolveu que, dessa vez, não ajudaria. Não tomaria partido. De cara, daria Marcelo. Comemoração efusiva. Diogo triste. Viu perplexidade. Que a dupla, surpresa, não entendia. Explicou. Pediu pra conversarem. Pra, ao invés da sorte, tentarem o acordo. Cogitaram. Pesaram prós e contras. Discutiram tanto que, com vergonha, guardaram a moeda. Disfarçaram. Falaram baixo. No fim da contagem, mostraram os dedos.