Alerta

O palhaço negro, que contou a piada boa, conhece um malabarista branco. É possível que representem um número novo, escrito pelo roteirista moreno. O mais claro chega com laranjas, pronunciam frases e a encenação termina bem. Diana, meio japa, gostou do ensaio. Acompanhou a movimentação de palco e, alerta, corrigiu expressões faciais e entonações imperfeitas. Será que a defunta existe? Se tá na cabeça é porque existe. Associa a história com uma outra, que é contada por um autor diferente. Chora quando acaba. Acha agradável e aproveita. Vive em busca das lágrimas, das sensações que experimenta. Principalmente as provocadas pela arte.

Henrique

Construído às pressas, o disco voador chegou ao destino na parte da tarde. Netuno, o rei, estava a bordo. Passou mal logo de cara e pediu pra voltar. Sentiu falta de água salgada. Autorizado pelo chefe, entrou num meio de transporte e desapareceu. A tripulação tinha tarefas a cumprir. Jogavam sueca na rua quando avistaram o animal inconsciente. Sem cérebro, no sentido literal, é desprovido de instinto. Executa movimentos aleatórios e toma atitudes inexplicáveis. É gigante, tem barba e tem dentes. Partiu desgovernado pra cima de Henrique. O astronauta ingênuo, que desconhecia a espécie, quis dialogar. Foi esmagado. Os sobreviventes correram pra dentro da nave. O alienígena vinha em alta velocidade, tropeçou e caiu em cima do veículo. O impacto abriu um buraco no solo. Os visitantes, lá no fundo, perderam um tempo matutando antes de sair. Escaparam e contra-atacaram. Vestidos de cavalheiros da ordem à qual pertencem, montaram uma armadilha pro bicho acéfalo. Deu certo. Como previsto, a vítima não reparou no material pastoso. Derrapou até o abismo do planeta e despencou no espaço sideral. Por sorte, bateu numa estrela que não é cadente e passou a viver onde parou. Os heróis continuam metidos na expedição. Netuno, preocupado, anseia por notícias.

Descuido

Dedicou atenção exclusiva ao desenho. Nada distraiu. Não botou música de fundo e, determinado, prendeu o cérebro no processo de criação. Não deixou que pensamentos supérfluos viessem à tona. Se deixasse, a menina tomava conta. Além dela, tinham os deveres, os problemas e demais possibilidades. De vez em quando um tentava. Rechaçado pelo bloqueio abstrato, morria no limbo. Um descuido e a parede suja viraria história. Tiraria Jaime do foco. Depois que acabou, pensou no que pensa normalmente. Desligou o ventilador e foi fazer outra coisa.

Circo

As orientações do líder, passadas via megafone, são improdutivas. O equipamento não tem voz própria. Amplifica a do oficial, que comete erros linguísticos e conceituais. Gostaria de ser empunhado por alguém diferente. Pensa num palhaço. Viveria no circo, na mão do artista. Não gosta de políticos. Com o professor de atletismo, conheceria as características do esporte. O sonho mesmo é andar com quem mais admira. Argumenta bem. O herói do megafone é gente boa, esclarecido e justo. Seria incapaz de falar tanta merda. No quartel, é de uso exclusivo do tenente.