Toalha

Entre penetrações, disse i love you em português. Agora não tem volta, é de praxe. Vira e mexe tem que falar. Quando tá de saída, por exemplo, dá um beijo e repete a confissão que escuta. Ficaria chato se contasse a verdade. Naquele dia, o primeiro em que pronunciou a frase consagrada, gozou e passou um tempo na cama. Foi no banheiro e ficou puto com a toalha de rosto. Molhado e sujo, o pano branco não secou a cara lavada. Entrou pelado no quarto, cobriu o corpo com o edredom e deu um abraço na menina. Sem muita maldade, sentiu o cheiro do pescoço. Gostou, chegou mais perto e sentiu de novo. A segunda transa começou em seguida. Evoluiu a ponto de o casal dispensar a coberta e levantar pra fazer de outro jeito. Idas e vindas, tapas, suor e nada de acabar. No auge da atividade, reutilizou a expressão.

Praia

Pensou em dedicar o fim de semana ao surfe. Ia alugar uma prancha, entrar na água e colocar em prática os princípios básicos do esporte. Acordou cedo no primeiro dia. Comeu o máximo que pôde e, após uma seqüência natural de fatos desprezíveis, chegou na praia. Ficaria nu caso tirasse a sunga verde que comprou faz tempo. Numa cadeira amarela, de plástico, sentou de frente pro mar. Consumiu o que pediu, pagou e levantou. Motivado pelas conseqüências, passou a investir em bebidas alcoólicas. Principalmente na que tinha açúcar misturado com gelo e limão. Depois disso, por vontade própria, deixou os objetos pessoais na areia e invadiu o oceano de mãos vazias.

Fita

Sentiu o drama quando escutou a criança que foi um dia. Tava na sala fazendo graça, junto com a mãe e o irmão. Durante o momento especial, registrado em áudio numa fita velha, diziam o que queriam num microfone ligado. Ficou claro que o adulto regrediu. Tornou-se um homem relativamente correto, saudável e simpático, mas não virou nem jogador nem cantor. É inseguro, mente, faz fofoca e trai. Gostou tanto da lembrança que voltaria pessoalmente ao início da brincadeira. Assistiria ao show todo e, sorrindo, bateria palma pros três.

Barriga

Duas amigas, uma alta e uma baixa, vivem juntas. Tomam cerveja, cachaça, misturam tudo e, quando se empolgam, usam drogas proibidas. São pessoas normais. Conversam com quase todo mundo, escolhem o que querem comer e comem. Trocam espontaneamente as idéias que têm. A mais magrinha, de olhos puxados e sorriso bonito, gosta da outra, que tem perna grossa e exagera na maquiagem. A recíproca é verdadeira. Ambas são heterossexuais e procuram um homem gentil, bonito, inteligente e bom de cama. Alice, menos curiosa que a companheira de quarto, simpatiza com a idéia de se matar. Já ficou tão pra baixo que um dia aproximou uma faca da própria barriga. Não empurrou pra dentro porque seria demais.