Reto

Na rua sem saída, de mão única, deixam carros e motos. Helicópteros, tratores, caminhões e veículos de tração animal. Passam de jangada. Remaram juntos pro desconhecido mundo misterioso. Recepcionados pelo golfinho de terno, avaliaram o imóvel no aspecto não monetário. Vai reto. No fim do corredor à esquerda, vire ao contrário. De costas pra piscina de água quente. O barulho que vinha do céu, no frio, atrapalhou. Humanos em desavença. Gritos masculinos, femininos e infantis. Desconcentravam o garoto parado. Área cercada. Burburinho de crime. Doze homens uniformizados correm determinados a esquartejar as sobrinhas de Alessandro. Meia idade, calado. Ouve mais do que fala. Pra não interromper, silêncio. Abre a boca e boceja. Acredita que a opinião emitida, após lucubração, possui relevância. Ninguém escuta.

Cadeira

A resposta, seca, deu a entender. Atravessada. Não houve contato visual. Os quatro olhos, dois de cada, apontavam pro lado ou pra baixo. Mãos nas cabeças. Pra não brigar, respiraram atentos ao ato. Interpelada depois do episódio, antes da janta, falou. Geraldo ouviu. O lamento, a confissão e detalhes. Sobre a mudança de hábitos e trejeitos. Distância e seriedade. Poucas palavras. Justificou os passos firmes e a alta velocidade entre cômodos. Má vontade, rancor e raiva. Sentado na cadeira de plástico, tomou a palavra. Desculpas e motivos. Arrependimento, desabafo. Esperança morta. Optaram pelo abandono mútuo. Pra sempre.

Série

No canal de esportes e literatura, falta dança. Política e economia. Medicina especializada em plantas, veterinária e bichos. Ninguém fala de física. Nem direito, remédio, história ou culinária. No cinco, pra criança, tem desenho e peça de teatro. Curta no dois, música no quatro e putaria no 69. Jesus, Maria e José aparecem no religioso. Novela brasileira e série americana são exibidos, respectivamente, no sete e no oito. Desliga. Repensa e liga de novo pra o ver filme que já viu. De um cadáver mal quisto, enterrado de qualquer jeito. Nenhuma surpresa no fim. Fora da aposta, comeu biscoito durante o sorteio. Os números, escolhidos ao acaso, foram anunciados em ordem crescente.

Trinta

A palavra, que veio depois da outra, completou o sentido da frase. Primeira de trinta. Na terceira, uma vírgula só. Nenhuma na quarta. Quinta, sexta e sétima, reescritas, ficaram bem encaixadas. Deram trabalho. A oitava não. Saiu fácil da cabeça e, materializada, cumpriu o papel. Pouco antes da metade, teve dificuldades. Não sabia direito onde estava nem qual era o objetivo. Optou pela inclusão de uma coordenada assindética. Funcionou porque, em seguida, vieram orações simples. Dois pontos, verbos e substantivos. Faltava pouco pra acabar. A falta de tempo, escasso pela proximidade do fim do prazo, pressionava a autora. Usou crase na 28, pronomes pessoais na 29 e finalizou sem reticências.