Café

Aquele berro, naquela hora, parecia mentira. Ninguém esperava. Mais cedo tudo bem. Sem comentários. Não diriam que, com certeza, ficou maluco. Que perdeu o controle. Foi alto. De tarde, depois do almoço. Acharam estranho. Gritou com força. Não disse nada, não explicou. Cismam que o barulho, nesse momento, é impróprio. Que não é natural. Pra ele, não faz diferença. Não se importa. Emite o som, agudo e estridente, quando quer.

Língua

Chamou de feia. Palavra simples, substantivo. Disse que é bradante. Que, pouco suave, soa mal. Reagiu. Usufruiu de palavrões. Quando chegou à língua, desde os primórdios, é assim. Mesmas letras, sílabas e sonoridade. Desempenha a função. Diferente de amor, felicidade e paraíso, é concreta. Ficou chateada, triste. É atacada, mal pronunciada e destratada. Apagada entre poderosas expressões, significa pouco. Detalhe.

Queda

Coloridos e com cabeça de ponta, catavam coco e jogavam pro alto. Na queda, conscientes, deixavam o crânio na reta. Quebravam, comiam e bebiam. De braguilha aberta, urinava quando questionado pelo diretor de operações. Pensou, guardou o pau azul e disse que iriam. Que o grande coco era questão de honra. Saíram e chegaram cedo no pé. Deslumbrados com o avantajado exemplar, sorridente lá em cima, se aproximaram. Formaram um círculo cheio. Com vara longa, cutucaram. Caiu onde queriam. Esmagamento e morte.

Prato

Pra esfriar a cabeça, passou a faca no pão. Arma branca de serra. Sem ponta. Abriu, arrancou os miolos e besuntou a bisnaga. Repousou num prato seco. Tomou leite também. Colher de sopa no pó. Com a esponja, lavou a louça. Detergente no lado verde. Alimentado, eliminou resíduos entre dentes. Arrumou o quarto e tomou banho. Fez tudo com calma. Respirou.