Dragão

Um desenho em cada uma. Dragão na branca e Deus na preta. O alien, na azul, cuspia. Cortes na verde. Inseto na vermelha e pessoa na amarela. Coisa de artista. Ficavam na sala. Esferas enfileiradas em rotação vertical. Caíram e quebraram. Esperança nenhuma. Nenhum pingo. Como pôde, catou os cacos.

Agora

Ficou quatro minutos no espelho. Olhos nos olhos. Fez o texto que agora lê. Por quatro minutos, de pé, close. Cabelo, boca e barba. Feições. Reações. Parou, por quatro minutos, pra ver.

Lado

Uma hora acorda. Não tem jeito. Sem despertador, sem compromisso e sem vontade. Viva, abre os olhos. Fica deitada. Lamenta de barriga pra cima. Pra dormir mais, vira pro lado. Desvira. Desiste. Levanta e, de pé, se arrasta. Até dar sono de novo.

Estalo

Lembra bem da porta branca. Proteção de ferro, quatro degraus e ela. Abria pra dentro. Sem chave, tocava a campainha. Ouvia o estalo. Empurrava e largava. Deixava bater. No caminho, já sentia. Entrava a contragosto. Pensava em como seria lindo se, nunca mais, passasse pelo vão deixado pela rotação do retângulo. Também tinha corredores, salas e janelas. Ia sempre. Todo dia.

Custo

Jair sempre perde. É fraco. Quando começa, tomado pela emoção, desconcentra. Quer que acabe. Aceita argumentos contestáveis. Arrependido por ter falado, escuta. Parece trauma. Pra brigar, mesmo verbalmente, é um custo. Porrada nem se fala. Prefere consentir. Numa situação extrema, em que a culpa do outro é flagrante, tudo bem. Perdoa. Luta pelo acordo imediato. Poucas vezes foi agressivo. Numa delas, por conta de um soco desferido, pediu desculpas.