Buzina

Foi tão bom que faz mal. Tá cabisbaixo e saudoso. Pensativo, concebe reedições. Tem pena do presente. O tempo no campo, bem passado, virou referencial. De clima, visual e astral. Do bom e do melhor. Tinha tempo de sobra, fruta no pé e água da fonte. Ar puro e livre. Ambiente agradável, equilibrado. Verde com vermelho e azul. Preto com branco. No áudio, show à parte. Ouviu sossegado. Tranquilo e calmo. No momento, angustiado, lamenta. Mal dormido, desanimado e aborrecido. De encontro à paz, insanidade. Pássaros por buzina e despertadores ligados. Almeja migrar. Substituir o incômodo pelo ideal.

Madrugada

A maioria esmagadora, de acordo com estatísticas confiáveis, já viveu e já morreu. O resto tá aqui ou tá pra nascer. Em 200 anos, com excesso de margem de erro, também serão cadáveres. A distância aumenta. Doenças, assassinatos e acidentes. Suicídios. Quem tá na ativa, especula. Passou dessa de madrugada, em casa. Óbito no atestado. O que nasceu, Lucas, incrementou o número de habitantes. Em relação ao de defuntos, calculados desde os primórdios, tende ao insignificante. Produção em massa de individualidades dispensadas. Enterradas, queimadas e afogadas. Desovadas. No momento, somos quem fica.

Norte

A máxima, pronunciada por quem tinha a palavra, resumia a questão. Liberdade de quem vive na Terra. Cortada em pedaços. Norte, sul, esquerda e direita. Espaços habitados por irracionais e dotados de intelecto. Pensam diferente. As idéias, quando conflitantes, geram desavenças. Por meio de brigas, acordos e imposições, as partes são ocupadas. As divisões têm subdivisões e as subdivisões também têm. Países, bairros e ruas. Pessoas nas casas. As linhas, vistas de cima, fecham cercos. Contam história. Sem vento, chuva ou bichos do mato. Só o desenho. Os grupos, que adotam posturas e emitem opiniões, parecem indivíduos. Guiados por governantes.

Chuva

A tempestade repentina, de uma hora pra outra, caiu do céu. Forte, com relâmpago. Antes, estrelas. Nenhuma nuvem. Veio do nada. Quem olhava pra cima, pra contemplar, não entendeu nada. Nada fez sentido pros meteorologistas. Previam ausência de chuva. Subitamente, passou pela estratosfera. Parecia que tinham guardado num balde gigante pra largar no três. O sol, num piscar de olhos, tomou conta. Nova surpresa. Caos na Terra. Notícias sobre o tema. A lua, cheia, apareceu também. Guerra. Pedradas, pauladas e tiros. Fim da vida. Os astros morreram.