Sigilo

Todo dia tem um pico. Melhores momentos. No auge da empolgação, percebeu que era. Pensou na produção clandestina de carne de monstro na aldeia fictícia. A parte complicada, de captura da matéria-prima, é resolvida na bala. Do peito pra cima, pra matar. Lavam, tiram a pele, cortam e empacotam. Jogam os restos no triturador. Vendem pra famílias que compram porque não sabem. Acham que é coisa boa, peça nobre do animal comido com frequência. Dividem o lucro, mantém sigilo e consomem boi de verdade. Viu que, por força maior, largou a distração precedente. Tava boa. Interessante e divertida. Foi substituída pelo entretenimento em andamento. 

Talo

As flores, entregues de graça pro homem de uniforme, foram rejeitadas e jogadas no chão. Pisadas pelas botas. Brancas de caule verde, tinham que ter sido mergulhadas num vaso com água. Ou plantadas na terra adubada. Acabaram sufocadas no asfalto quente. As marcas do calçado, de cano longo tamanho adulto, apagaram a ternura que sobressaía. Agora estão mortas. Deslocadas da vertical pra horizontal. Amassadas até o talo. São órgãos reprodutores de angiospermas que, em posse de quem cuida, regados, produziriam sementes. Perfumariam e embelezariam espaços abertos ou fechados. Na despedida, quando retiradas do jardim pela menina que levou, cumprimentaram árvores, riachos e animais que cantam. Saíram convictas. De coração aberto, viajaram em prol da justa causa. Não contavam com a reação violenta ao carinho explícito.

Masmorra

Puto, acabou com a brincadeira. Ponto final na longa prosa. Lenga-lenga. Saiu decidido da masmorra do castelo dos senhores do mal. Munido de armas poderosas, disparou contra os opressores. Manifestou o desacordo com as circunstâncias, esbanjou valentia e aniquilou os inimigos. Botou fogo no imóvel gigantesco. Jogou praga na floresta tenebrosa e derrubou a ponte do rio de ácido sulfúrico. Apagou da mente. Esses dias, no inverno, encontrou uma princesa desertora no parque das plantas azuis. Era filha de outro rei que destratava os servos. Reclamou do pai, contou detalhes da própria fuga e comentou sobre atualidades. Fizeram o que diz respeito a ambos. Não transaram.

Sistema

A mulher, de capuz, pediu ajuda. Alan concedeu e ficou feliz. Tarefa simples, corriqueira. O diálogo travado, acerca da enfermidade sofrida, durou pouco além do período de auxílio. Problema relacionado ao sistema locomotor. Contou que vai longe, num profissional específico. A despedida, anunciada pelas circunstâncias, foi tranquila. Uma pergunta, um agradecimento e uma consolação desnecessária. Deixaram transparecer o apreço mútuo. Seguiram na mesma reta. Em velocidades diferentes, experimentaram a consequência das impressões que tiveram. Depois passou.