Passou a tarde tentando levantar. Caiu de costas. No começo, partiu pra ignorância. Executou séries de impulsos mal calculados. O esforço, repetitivo, ampliou a dor. Parou um pouco. Virou de lado, encaixou o quadril e respirou fundo pra acumular energia. Nem no tranco. Dispensou a ajuda de amigos e familiares. A idéia seguinte, mais elaborada, falhou também. Na que deu certo, arrastou o corpo até a escada. Deixou as pernas descerem pelos degraus pra coluna chegar no ponto. Apoiou um pé na base do corrimão e, com os cotovelos, iniciou o processo de elevação da estrutura. Foram três etapas. Passou da primeira com facilidade. Na segunda, quase volta pra anterior. Concluiu a terceira e foi direto pra onde quis.

Narrativa

Depois insistir no oposto, quer desconcentrar. Desperdício. Impediria a ocorrência de pensamentos relevantes. Mas tá cansado. Mentalmente cansado. Precisa cair no sono pra acordar bem. As linhas de raciocínio, em profusão, sucedem as antecedentes. Aparecem, evoluem e desaparecem. Parou na que gostou mais. Na narrativa, minuciosa, de cada passo dado por um artista fictício. Teodoro. No oitavo, destaque pra extensão acima da média. Descreveu o motivo da singularidade do movimento. Dormiu tarde. Assim que, vindo da rua, o escultor subiu as escadas e sentou no sofá.

Negativa

Quando chamou de fofo, ficou todo bobo. Depois de tanto tempo. Um beijo que, de tão bom, lembrou outro, que usa como referência. Têm gosto do que gosta. Acordou feliz. Lembrou detalhes da noite rara. Do enredo e da despedida. Das promessas. Ansioso, segurou o ímpeto de fazer contato antes da hora. Esperou um pouco. Chamou pra sair no fim de tarde, crédulo em relação à reciprocidade da pretensão. A negativa, plausível, não fez mal. Três convites e nada. Juliana perdeu a vontade. Passou. Parou de insistir pra continuar tudo bem.

Começo

Talvez o livro faça Angélica desaprender. Tá mal escrito. Apresenta diálogos irritantes, construções horríveis e citações inúteis. Exige boa vontade e paciência de quem se propõe. Perseverança. O contentamento, pra que seja alcançado, pressupõe déficit de raciocínio. Constrói situações esdrúxulas. Os personagens, nada interessantes, recebem descrições tão ruins quanto às das paisagens e imóveis visitados. Fica difícil insistir. Se quiser, pega outro, abre e lê. Não faz porque não consegue. Espera que o romance melhore, engrene. Sofre de página em página. Pra descansar, dá uma volta. Pondera e volta. Pega no volume com vontade. A primeira frase já chega de sola. Incomoda, é desagradável. Pra desgosto da mulher teimosa, o estilo é mantido ao longo dos parágrafos. Tá no começo ainda. Pensa. Reflete e, na dúvida entre parar e continuar, agoniza.

Filtro

Na lista de itens, incluiu o que precisava. Pá, enxada, cimento e pedra. Tijolo, um balde pra encher de areia e demais artefatos relacionados à construção de residências. Já tinha espátula e nível. Começou pelo quarto. Produziu argamassa, levantou paredes e rebocou. Foi no banheiro do vizinho. A sala, com dois ambientes, deu trabalho. Depois, na varanda, prendeu ganchos pra pendurar a rede. Botou azulejo na piscina e terminou de fazer a churrasqueira. Perdeu tempo na cozinha. Colocou armário, pia e torneira. O filtro, de água gelada, foi instalado pela empresa que vendeu. Saiu pela porta de madeira, fixada por dobradiças. Chegou em casa de noite. Desentupiu a privada e consertou a geladeira. Tomou banho, viu televisão, jantou e dormiu. Acordou cedo pra pintar.