Energia

Os sentidos de Vagner, focados no retângulo, desprezam o entorno. Mulheres que passam, paisagens e comentários. Ruídos e odores específicos. Numa dessas, perdeu Marina. Andava pela calçada. Sozinha, pensativa. Com uma pequena dor provocada pela saudade que sente. Tenta esquecer. O rapaz, vidrado no paralelogramo, gostaria de apreciar o corpo em questão. Participa de um grupo de fotógrafos amadores. É uma figura vazia, sem alma. De quatro lados e ângulos retos. Fabricada, inanimada e protegida. A forma geométrica, cuja área é o produto da base pela altura, possui diagonais congruentes. Tem um ponto médio e, movimentada pelas mãos de quem carrega, consome energia.

Compromisso

Tranquilo e calmo, passou fácil pelos olhos de quem viu. Relaxado, descansado. Bebeu café com leite na mesma proporção. Comeu pão. Logo cedo, saudável e despreocupado, começou a fazer o que queria. Com tempo de sobra. Num clima agradável, desprovido de calor e frio, seguiu rumo ao futuro próximo. Suave e sereno. Nenhum compromisso, favor ou obrigação. Bem disposto, perto de bichos que voam e cantam, caminhou e escutou. Aproveitou a leveza rara de uma manhã de paz. De cabeça fresca, sossegado, inalou o oxigênio disponível. Sentiu a brisa que passeava sem pressa.

Parque

Provocaram vaias de quem esperava o oposto. As faces aglomeradas exprimiam decepção, tristeza, incredulidade e um pouco de raiva. Queriam presenciar uma apresentação agradável, de qualidade. Dentre as infinitas possibilidades de materialização histórias do gênero, uma aconteceu. No parque. À tarde. Na frente de pessoas atentas, outras desempenhavam funções. Pouca gente gostou. Ao contrário dos demais, ficaram até o fim. Passaram felizes por quadras vazias e vendedores de produtos alimentícios.

Loja

Muito usado, sofreu assepsia. Parou na máquina de lavar junto com a toalha. Girou em torno de um eixo e, após o enxague automático, passou um tempo na corda. Voltou pra porta de casa. As visitas, de pés sujos, pisaram em cima e arrastaram com força. É novo, comprado na loja. Felpudo, azul claro e retangular. A quantidade de lama, suficiente pra impregnar a peça, saiu dos sapatos de Laura e Ivan. Chegaram tarde, depois da chuva. Sujaram o corredor, molharam toalhas e pegaram roupa emprestada. Comeram a comida e, bem humorados, animaram os anfitriões.