Capital

Antes de dormir sozinho, passou perfume. Pra agradar a si próprio. O cheiro, captado pelo nariz, tava bom. Poderia não ter usado. Fez diferente por impulso. Gostou bastante, mas lembrou do capital investido num produto que, naquele momento, não atingia exemplares do sexo oposto. Na noite seguinte, na dúvida, usou de novo. Adotou a conduta dali em diante. Quando esquece, fica tranquilo. Só tem medo de que, justo numa exceção dessas, apareça de repente uma mulher disposta a compartilhar a cama. Pediria licença pra botar. A acompanhante, nesse caso, esperaria. Conheceria Fabiano e tiraria conclusões. Saberia que não toma banho de manhã.

Água

A cabeça do pau, branca, mostrou o caminho. O tronco também. Encolhido, abatido e inerte. Sem sangue. Assustado pela languidez do órgão que deveria estar pronto pra ficar duro, guardou na cueca. No espelho, cara pálida. Molhou partes do corpo, alongou o pescoço e andou na diagonal. Partiu em busca de algo interessante. Pediu água. Prosseguiu impregnado pelo déficit de saúde e, pra reagir, parou pra respirar. Só comeu mais tarde, já em casa. Deitou e dormiu. Horas depois, acordou bem. Viu que a glande, recuperada, tinha cor.

Máquina

A caixa fora do lugar foi culpa de Fernando. O pessoal percebeu. Incomodados pelo posicionamento equivocado, comentaram em voz alta. Apontaram pro responsável. Sem graça, fez uma cara de babaca enorme. Expressão típica. Parou de brincar e ficou arredio até ir embora em silêncio. Sabia que o certo era deixar entre a bicicleta e a escada. Na hora, por algum motivo, fez confusão. Ouviu alguém falar alguma coisa. Entendeu errado, vacilou e não pode consertar. Depois, imerso em autocrítica, repensou prioridades e metas acessórias. Absorveu o impacto. No reencontro, calejado, atenção redobrada. Perto da máquina, encostada na vassoura.

Vizinho

O romance é diferente. Contextualiza, descreve e continua. Quando é bom, prende. Eduardo escreveu. Personagens, cidades e meios de transporte. Alguns voavam. Na trama, manjada, julgamentos de crimes passionais cometidos por alienígenas. Faca e queijo na mesa. Pão francês e leite quente. Ficou puto com a cônjuge que, acompanhada pelo vizinho, tomava café. Falou alguma coisa, tomado pela raiva. Tinha um rosto estranho ao nosso. Típico do lugar de onde veio. Usou a arma que tinha e, primeiro, matou ela. Depois ele. Não se matou porque não quis. Tinha amante e filhos. Terráqueos.