Líquido

Doido pra comer uma gostosa, tomou banho. Água quente no frio. Pelando. Pra acostumar, entrava e saía do raio de ação do líquido. Passou shampoo na cabeça e sabonete no resto. Terminou a assepsia, secou o corpo e, pelado, escolheu a roupa. Camisa nova com calça velha. Tênis cinza. Na rua, atingiu o auge da vontade de utilizar a genitália com propósito libidinoso. Concentrado nos peitos e bundas que circulavam, ficou com o pênis intumescido. Deixou de lado até amolecer. À noite, ainda imerso na obsessão, saiu em busca de uma mulher que topasse transar de graça. A primeira tentativa antecedeu as posteriores.

Pena

Consultou o dicionário pra entender. Leu, assimilou e viu outra. Arredia e epifania, respectivamente. Montou frases com as duas. As construções irrelevantes, armazenadas no cérebro, competiam. Dispensou uma, que chorou. A vencedora ficou assim: a segunda palavra no início, um aposto no meio e a primeira no final. Fazia menção aos benefícios da vitamina. Pensou em mulher, violência e araras de pena azul, que voavam num lugar fechado. Batiam com o bico no teto.

Banho

A melodia composta, até o fim, sugere uma linha de raciocínio. A letra é boa. Fala sobre um robalo gigante, que nada de dia e dorme de noite. Ganha peso no refrão. Quem criou, de banho tomado, mostrou pros amigos. Tem coragem. Confia na exposição das aventuras do peixe. É legal porque as partes agradam. Inventou e se aproveitou da inexistência física do personagem. Com a consciência tranquila, expõe a intimidade do animal. Não liga quando chove.

Mapa

Rosane voa insegura rumo ao castelo medieval. Fica atenta e nervosa. Qualquer deslize, no ar, vira medo de queda. Pegou a direita errada. De tão tensa, comete falhas. É comum. Leu o mapa repetidas vezes. Decorou as diagonais, perpendiculares e paralelas. Vinha reto e, antes da hora, entrou na transversal. Deu mole de novo. Inconformada, insistiu. Ultrapassou a fronteira, foi mais longe e chegou onde está. Pode continuar. Talvez volte atrás. A segunda opção, compreensível, justifica-se pelo histórico.

Vídeo

Ninguém ajudou o bicho descalço que pisou no prego. Os que usam bota, precavidos, têm rixa com os de pés no chão. Acham errado. Defendem a utilização do calçado como meio de prevenção contra cortes e doenças provenientes de micróbios. O buraco, pelo qual saía sangue em grande quantidade, foi tapado pela vítima com uma folha de bananeira. Presa por um barbante, não estancou, ficou vermelha, pesada e caiu. O esquilo, pálido, morreu. Os roedores da vertente oposta, interessados no processo, registraram em vídeo. É a prova do efeito devastador da hemorragia em animais de pequeno porte.